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segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

JÁ NEWS! |


 

 Relações “amorosas” descartáveis são maioria em novelas, afirma pesquisa de universidade.

“Ela foi casada cinco vezes. Primeiro com um italiano, depois com um português, mais tarde com um judeu, logo após com o mesmo italiano e, em seguida, com um japonês.”
A julgar pela quantidade de casórios da sinopse, Safira, papel de Cláudia Raia em “Belíssima” (2005), está inserida na “modernidade líquida” –ela e boa parte dos personagens de 13 novelas que a Globo exibiu de 2000 a 2008 no horário nobre. É uma das primeiras conclusões do trabalho de doutorado do mestre em educação Marcus Tavares, 35.

Para o estudo, em andamento na PUC-Rio, ele categorizou os relacionamentos dos folhetins seguindo os perfis, como o de Safira, descritos no site Memória Globo (núcleo que pesquisa a história da emissora).

Segundo o ranking, são 32 casos de “mais de um casamento ou relação estável”, seguidos por 29 “relacionamentos curtos e descartáveis, com filhos fora do casamento” e 20 histórias de “homens ‘conquistadores’ e mulheres ‘fáceis’”.

“Autores [de novelas] estampam a realidade, e o que dizem sociólogos, como [o polonês Zygmunt] Bauman e sua ‘modernidade líquida’”, diz o pesquisador. O amor no horário nobre, enfim, é tão fluido quanto fora dele.




A moral dos ídolos
Tavares se refere à formação de um “novo indivíduo, dono da sexualidade, destituída da função reprodutiva”. No ranking, há ainda 13 casos de “prostituição por prazer ou necessidade” e, empatados com 11 registros, “relações entre membros da família” e “extraconjugais ou estáveis com traição masculina”.

Os números, apresentados no 1º Seminário Internacional de Classificação Indicativa, realizado em Brasília no final de 2009, serão a base para discutir a influência das tramas em crianças. “O que se sabe em educação é que os modelos influenciam. Os ídolos são muito importantes”, diz Tavares.
“Não estou sendo conservador ou defendendo a família tradicional. Mas precisamos saber de que forma a escola trabalha questões amorosas atuais que são reforçadas pela mídia”.
Para Maria Immacolata Vassallo de Lopes, coordenadora do Centro de Estudos de Telenovela da USP, “é importante não ter uma atitude moralista ou algum juízo de valor” nas categorias do estudo. “Não sei se cabe o termo ‘descartável’ para uma relação, apenas pelo fato de ela durar pouco”, diz.

O fato de retratar a relação entre tradição e modernidade, segundo Lopes, liga as telenovelas à história do país.

“Desde que o gênero se abrasileirou, com ‘Beto Rockfeller’, [de 1968, na TV Tupi] que era um malandro brasileiro, a novela passa a fazer parte da modernização do Brasil”. E, atualmente, diz, “o fluido é a própria condição da modernidade”.

Com 23 novelas no currículo (17 delas na Globo), o autor Lauro César Muniz defende que, além de atuar na modernidade, a dramaturgia ajuda a “organizar as relações”.

“Os relacionamentos passaram a ser mais rápidos, e a TV tem a função positiva de organizar isso. Como a dramaturgia é orgânica e precisa se comunicar, tenta organizar isso de forma clara”.

Para Muniz, “as crianças não sofrem tanto [os efeitos das novelas] quanto dizem os moralistas”. “Elas estão inseridas na realidade. É como receber lições sem palavras de ordem.”

Fonte: Folha de São Paulo

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